Por que aprender francês? Era a primeira vez que aquele amigo me fazia essa pergunta, ainda impactado por uma recente viagem a trabalho a uma ex-colônia francesa. No período em que esteve fora, o choque cultural levou-o a questionar seu conhecimento sobre o mundo.
Sentira-se analfabeto, desinformado, ignorante. De início, não entendera nem sequer um "merci". As placas espalhadas pelas ruas nada significavam para ele. Sua curiosidade em relação aos hábitos locais era repreendida com expressões de estranhamento e risadas, que só agravavam sua sensação de não-pertencimento.
No dia seguinte à volta, num encontro para contar as descobertas, ele me fez a tal pergunta. Na verdade, o correto seria dizer que ele se fez a tal pergunta. Eu, única pessoa a falar francês em seu círculo de amizade, tentei responder racionalmente. "Para melhorar o currículo", "para conhecer a cultura", "para se comunicar com mais gente". Papo de restaurante.
Ao nos desperdirmos ele estava convencido: se inscreveria num curso. Ao nos reencontramos ele estava dividido: por que mesmo deveria aprender francês? No período que separou os dois encontros, outros amigos haviam questionado sua decisão. "Mais pessoas falam espanhol", sugeriu um. "Francês é uma língua morta", exagerou um segundo.
Então, ele me refizera a pergunta: por que mesmo aprender francês? Repeti meus argumentos, mas seus olhos apertados ao me encarar demonstravam que ainda não o havia convencido. A inscrição no curso só se daria depois de seu chefe o encorajar a estudar a língua, se oferecendo a pagar as mensalidades, vislumbrando novas viagens à ex-colônia.
O primeiro dia de aula, alguns dias atrás, se incumbiu de responder em definitivo a tal pergunta. Entre "salut", "bonjour", "merci" e "au revoir", meu amigo conseguiu notar que seu raio de visão se expandira — minimamente, mas se expandira. Agora entendia as origens de souvenir, elle. Descobertas simples, mas que apontam para um futuro de descobertas amplas.
Curiosamente, a semana do seu ingresso no curso de francês concidiu com a semana da minha saída. Momento de refletir sobre os anos de dedicação ao aprendizado da língua, que incluiu a criação desse blog, e observar os primeiros passos de um amigo no aprendizado da língua.
Reflexão que faz lembrar a frase "O mundo é um livro do qual aqueles que nunca viajaram leram somente uma página". Talvez possamos dizer também que o mundo é um livro do qual aqueles que falam apenas uma língua leram somente uma página.
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